
A Família na Escola

Fonte: Autoria Própria
A família está dentro da escola. Ainda hoje ouvimos a separação entre os dois termos, como se os dois não se interligassem, não coexistissem e o portão da escola separasse dois mundos, duas realidades.
Quando a criança entra na escola, carrega em si uma herança familiar, uma socialização pré-existente, uma literacia que lhe é transmitida e potenciada pelas suas interações familiares e sociais. Mas a criança, apesar de em casa ser filho, irmão, neto ou primo, e na escola ser aluna, não se despe desses múltiplos papéis nem se despede da sua história e da sua rotina, logo a família entra na escola; a família senta-se à mesa da sala de aula e está presente nos processos de ensino e aprendizagem, mas também se senta na mesma da cantina e desfruta do almoço e da conversa dos colegas, e porquê? Porque todos os processos, todas as atividades desenvolvidas em ambiente escolar têm repercussões na vida da criança e ficarão com ela, irão para casa com ela e serão levantadas durante o jantar, ou durante o caminho até casa dos avós. Da mesma forma, o ambiente familiar, o contexto social, as interações com a família, a literacia da família, está presente na criança e faz parte do seu desenvolvimento e estará na escola, diariamente, influenciando todos os processos de aprendizagem da criança, bem como as suas reações.
É sabido, no entanto, que a relação escola-família é cada vez mais distante e confusa. A família, que por vezes não compreende o seu papel – por diferentes motivos, seja porque rompem o conceito de família ideal, ou por um nível de literacia que consideram estar aquém – quase assume a escola como um espaço distinto, onde a criança passa o seu tempo e do qual se recupera, mas são constantemente invadidos pelas atividades de casa das crianças, pelo dia menos bom que a criança teve ou pelo êxtase de um dia em cheio. Por sua vez, a escola sente que as famílias se demitem do seu papel e que a escola se tornou um espaço não reconhecido, banal até.
No entanto, é esquecido o importante papel que a família assume no desenvolvimento das competências básicas essenciais para uma aprendizagem posterior efetiva. A criação de um ambiente favorável à expressão da criança em casa, um espaço seguro onde esta possa conversar e desenvolver os seus pensamentos, ações e iniciativas, é essencial para que uma criança se desenvolva e se transforme diariamente, levando consigo aptidões decorrentes das múltiplas expressões experimentadas para o espaço da escola. De facto, quando a criança tem a possibilidade de se expressar de diferentes maneiras desde cedo, tendo o apoio da família, que a motiva e lhe proporciona oportunidades distintas de se manifestar, seja na dança, na pintura, no canto, na escrita ou num desporto, torna-se num ser mais completo e feliz, o que será transposto para todos os sistemas da sua vida. Por outro lado, a criação de meios estimulantes e permissivos da criatividade e exploração da expressividade da criança na escola, concede ao jovem a perpetuação da sua experiência privada e pessoal num espaço de eleição para a socialização e partilha com os seus pares; isto significa que a socialização deixa de estar circunscrita à família e se transfere para a escola, que a completa.
Em suma, é fácil compreender que a criança é representação e espelho da sua família, que por sua vez acarreta a significativa responsabilidade de criar, desde cedo, nas suas especificidades, as condições para que o desenvolvimento e a expressão da criança aconteçam, pela sua vontade, mérito e autonomia, auxiliando, nunca condicionando. Estas ações, este início basilar, é completado depois pela escola, onde a criança, tal como um rio, desagua e se expande, contactando e crescendo com as experiências dos seus semelhantes, que como la, também levam a sua família para a escola! E é assim que podemos reafirmar que a família está na escola e a criança, que se expressa desde que acorda até que se deita, pois aprende, evolui constantemente, produzindo discências diversas.
Referências:
Almeida, AN. (2005). Análise Social vol. XL: O que as famílias fazem à escola… pistas para um debate**. (175). 579-593.
Pacheco, N. (s.d). A ESCOLA EM CASA – IMAGENS INTERFERENTES NA FAMÍLIA.