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Vamos Brincar às Expressões!

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Fonte: Photo by National Cancer Institute on Unsplash

         O tempo livre e o brincar são dois conceitos que nos últimos anos se têm vindo a distanciar do dia a dia de uma criança. Se outrora a criança saía cedo de casa para a rua e brincava até ao almoço, hoje a criança acorda cedo, toma o pequeno almoço e ocupa o seu tempo na escola, nos centros de estudo, no ATL, entre outros espaços que se destinam à ocupação da agenda da vida da criança.

         Este fenómeno, a que até podíamos chamar de “OTL” – Ocupação de Tempos Livres – por oposição a “ATL” – Atividades de Tempo Livre - que apesar do nome, se revela irónico face à sua concretização, tem vindo a crescer devido a diferentes fatores: os pais trabalham mais, logo tentam que os filhos tenham, legitimamente, o máximo acompanhamento; há uma sobrecarga horária enorme, assim como a extrema quantidade de tarefas para casa, entre tantos outros, mas isso leva a que os adultos se esqueçam da principal atividade da vida de uma criança: brincar. O brincar é a atividade que predomina no dia a dia de uma criança, é a oportunidade de se enriquecer e crescer enquanto explora o mundo das brincadeiras, da fantasia, da imaginação e da própria realidade; estes momentos, que deviam ser a única possibilidade de atividade da infância, ocorrem no que se designa por “tempo livre”, aquele tempo em que a criança pode fazer aquilo que deseja, decide se pinta ou joga à macaca, ou até mesmo se quer ver um vídeo no Youtube e dançar em frente à televisão, e não o tempo em que a criança dorme, ou seja, descansa.

         No mundo das expressões, estas não são mais que o brincar no seu estado mais legítimo. As múltiplas atividades e formas de expressão permitem que a criança brinque da forma que deseja e se explore, que conheça o seu corpo, os seus movimentos e a sua mente, quando concebe um jogo, uma história, um desenho ilustrativo, um poema… E se assim é, então porquê que as expressões devem ser tão valorizadas e desde cedo? Como já foi referido na reflexão acerca da literacia, a escolarização obrigatória, a entrada no primeiro ciclo, é aquele momento no tempo que marca o crescimento abrupto de uma criança e a abolição do tempo livre e das expressões, para assim dar aso à aprendizagem de conteúdos e competências que, para os adultos, importam, mas isso é possível porque a criança já possui literacia, já possui competências a nível da linguagem, resultantes das suas interações e das brincadeiras. O brincar, as expressões (dramáticas, musicais, plásticas), são o instrumento da literacia e ocorrem no tempo livre da criança, quando esta brinca, interage com outras crianças, procura explorar diferentes atividades, como cozinhar, dançar, fazer cambalhotas, e assumir-se como um ser que escolhe e sabe o que quer. Quando este tempo é retirado, extingue-se também a oportunidade de ser criança, bem como o poder de escolha que a criança tem e que lhe permite optar entre uma múltipla quantidade de atividades, aquela que lhe possibilita enriquecer e desenvolver determinado conjunto de competências, que aos adultos parecem passar despercebidas, dado que as atividades que parecem ser interessantes para esses são as de índole escolar. É por isso que não basta que a escola ou o ATL organizem e dinamizem atividades para as crianças, estas têm de estar no centro do processo e na origem das decisões, para assim conseguir tirar proveito das mesmas!

         Desta forma, as expressões voltam a assumir-se como a base do desenvolvimento, pois estão patentes em todo o género de atividades que sejam praticadas pela criança, na medida em que tudo é expressão e o brincar não é exceção. Brincar é expressar. Brincar é expressão. Brincar é desenvolvimento. Brincar é conhecimento. Logo, expressão é desenvolvimento e conhecimento, não conseguindo ser dissociada deste tempo e deste fenómeno tão maravilhoso que é a infância a brincar!

        Em suma, torna-se visível que as expressões são a vida, fazem parte desta, e que em momento algum as podemos retirar, logo a sobrecarga de trabalhos e de ocupações, afastam a criança da sua identidade e da chance de se expressar, todos os dias, livremente e de forma genuína. Não é possível conceber o dia da criança, organizar uma atividade em que ela avoca o papel de espectador e não de ator principal, pois isso tornará a atividade monótona, cujo valor será diminuto ou nulo para aquela criança, que não é capaz de perceber de que forma é que a atividade a estimula, a diverte e a faz ser criança. Assim, as expressões revelam-se, mais uma vez, o veículo da vida, tornando-a numa viagem que tem tanto de alucinante, como de doce!

Referências: 

Araújo, MJ. (s.d). A importância do tempo livre para as crianças. (22-27)

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